Notas de um Produtor de Música Independente, Parte 5: Saiba Quando Parar

[Este post foi escrito pelo colaborador e produtor musical Jamie Hill.]

Ok, um auto-exame rápido. Alguma dessas frases descreve você?

* Você está trabalhando num disco por um ano, mas está se sentindo empacado.

* Você está criando uma obra de arte. Ela é especial, e precisa de mais tempo para ser feita do que discos comuns.

* Você está na sua vigésima quinta mixagem. Elas só precisam de um toquezinho agora!

* Você continua ouvindo opiniões diferentes sobre como a mão esquerda poderia tocar piano diferente na passagenzinha de uma música.

*Você não pode lançar seu álbum ainda. Ele não está perfeito. Ainda. Mas tá quase lá!

* Você continua achando que tem detalhes para mudar. Daí, na semana seguinte, você está mudando eles de volta.

* Você está trabalhando nesse disco há tanto tempo que perdeu qualquer perspectiva, e não faz ideia de como o som dele é mais.

Alguma dessas frases lhe é familiar? Se sim, ouça de coração, você não está sozinho. Saber a hora que uma gravação está pronta é provavelmente o aspecto mais difícil de produzir um disco.

Agora que todos nós temos computadores, gravar música virou um processo que não é mais restrito por tempo e por orçamento. É só abrir seu computador e ir mudando coisinhas, no conforto de nossa casa, de graça e para sempre. Olhando pelo (enorme) lado positivo, é um caso revolucionário em que os meios de produção foram direto para as mãos dos proletários. Todos agoram têm acesso a estúdios virtuais que podem conseguir uma qualidade de som que, até décadas atrás, necessitaria de equipamentos de centenas de milhares de reais para ser obtida. Isso sem falar no acesso a todas as versões anteriores de músicas e arquivos. É revolucionário..

Já no (também tremendo) lado negativo, se você não tem instintos de produção muito bem apurados, toda música pode acabar sendo um buraco negro que consome todo seu tempo com a infinitude da escolha. E isso é ruim, por várias razões:

* Num nível puramente estético, eu acredito fortemente que as melhores gravações servem como um retrato de onde estavam as pessoas que as fizeram, em que momento de suas vidas e em que época elas foram feitas. Se você trabalhar num álbum por tempo demais, pode perder esse sentimento muito importante de zeitgeist.

* Você pode destruir uma gravação interessante se a analisar demais. Esse é um conceito simples, mas que muitas pessoas não conseguem entender durante todas as suas carreiras. Leia este parágrafo de novo.

* Assunto relacionado: se você continuar voltando e revisando as coisas para sempre, corre o risco de acabar apagando as esquisitices que fazem da sua gravação uma coisa única e interessante. Sabe quando você ouve uma música zoada, perfeitamente feita em estúdio e tão burilada que fica sem alma e parece não ter conexão com humanos? Você não quer fazer isso com a sua gravação.

* Seu melhor trabalho sempre estará à frente. Você tem que acreditar nisso, é a definição do que significa ser um artista. Então, considerando isso: quando mais tempo você dedicar a refazer o disco em que está trabalhando atualmente, mais estará se privando de ir adiante e descobrir o que há guardado em seguida para você. E por que você s privaria propositalmente da possibilidade de progredir como artista?

Eu tô sentindo que você está fazendo que sim com a cabeça, concordando comigo: essas coisas são ruins mesmo. Então, como evitá-las? Esse é o assunto do próximo post.

[Para mais dicas de produção musical, confira a Parte 1 , Parte 2, Part 3 e Parte 4 desta série].

Biografia do autor: Jamie Hill é um produtor de música independente, engenheiro de som e autor. Ele foi indicado ao prêmio de Melhor produtor no Independent Music Awards de 2014. Hill trabalha com vários gêneros, especialmente em nichos de música independente e alternativa e com bandas como ArnoCorps, Shannon Curtis e muitas outras. Ele chegou às paradas de sucesso internacionais com o artista sueco de indie-pop Jens Lekman, cujo álbum An Argument With Myself estreou na parada Billboard Heatseekers Top 10 em vários países.

Texto originalmente publicado no site Pyragraph.com.

[hana-code-insert name=’Newsletter Sign-up’ /]