Notas de um Produtor de Música Independente, parte 3: “Não, Seu Disco Não Tem que Se Parecer com seu Show!”

Hoje eu vou dar um mini-sermão. Mas vai ser curto. Obrigado por terem paciência comigo…

Mais vezes do que eu consigo me lembrar, eu estava falando com um artista principiante sobre seu processo de gravação e ele afirmava que sua visão e prioridade para seu álbum é que “tem de ter o mesmo som do meu show ao vivo”.

Eu só queria reservar um momento para dizer: isso não é verdade. Quem disse isso? Não há uma regra escrita em lugar nenhum. Especialmente porque seu show deve ser só você e um violão. E isso seria um álbum chato pra caraca. Segunda coisa mais chata: você e seu violão em meio a um arranjo minimalista de baixo e percursão. Eu acredito que você conheça ótimos músicos. Mas todo mundo já ouviu esse disco um milhão de vezes. E a gente não precisa ouvir de novo.

A não ser que você esteja fazendo um disco ao vivo, “Eu quero que meu disco seja igual ao meu show” é comparar alhos com bugalhos. Uma gravação é a oportunidade de projetar seus sentimentos numa tela maior. É sua chance de usar uma paleta de sons maiores do que a que você teria acesso numa situação normal (veja meu post anterior sobre como se diferenciar no mercado fonográfico com aventuras sônicas). E, o mais importante, é uma chance para você fazer uma declaração.

E, de verdade, você vai querer que sua declaração seja “Eu penso tão pouco no meu público que queria ter certeza que eles conseguiriam ligar meu show ao vivo com o meu disco, e faço isso do jeito mais reducionista, literal e óbvio possível?” Nossa Senhora, espero que não.

Confie um pouco no seu público. E dê um presentinho para quem levar seu disco para casa. Leve-os numa aventura. Dê algo especial para formar um laço, não uma reconstituição do que eles já viram no palco. Leve a relação para o próximo nível.

Acabou o sermão. Se você tem uma gravação recente que é uma aventura, é só compartilhar com a gente na seção de comentários, aqui embaixo!

[Para mais dicas de produção musical, confira a Parte 1 e Parte 2 desta série].

Biografia do autor: Jamie Hill é um produtor de música independente, engenheiro de som e autor. Ele foi indicado ao prêmio de Melhor produtor no Independent Music Awards de 2014. Hill trabalha com vários gêneros, especialmente em nichos de música independente e alternativa e com bandas como ArnoCorps, Shannon Curtis e muitas outras. Ele chegou às paradas de sucesso internacionais com o artista sueco de indie-pop Jens Lekman, cujo álbum An Argument With Myself estreou na parada Billboard Heatseekers Top 10 em vários países.

Texto originalmente publicado no site Pyragraph.com.

 

[A imagem da maçã veio da Shutterstock.]