A rádio online 8tracks, que tem curadoria do público, testa uma nova estratégia de investimento

Por Chris Robley

Se você está distribuindo sua música digitalmente com a CD Baby, nós vamos entregar seu som para a 8tracks, a rádio de internet que é amiga dos músicos independentes, cuja curadoria é feita por humanos, e não por algoritmos.

Você já conferiu a 8tracks? Se não, você deveria, é uma plataforma bem legal.

Recentemente, a 8tracks andou fazendo experimentos com uma estratégia de investimento inspirada em crowdfunding, o que permitiu aos usuários de fato terem cotas do serviço. E eles conseguiram levantar dezenas de milhões de dólares com pessoas interessadas. Ao permitir que os usuários pudessem investir antes — em vez de ir atrás dos grandes investidores —  eles adotaram uma postura meio punk rock (ou o mais próximo disso que uma empresa startup pode chegar em 2016) para mim, então eu queria perguntar para o fundador e CEDO da 8tracks, David Porter, sobre esse processo.

Uma entrevista com David Porter, da 8tracks

Para os nossos leitores que ainda não conhecem a 8tracks, você pode falar um pouco sobre o serviço? O que a diferencia de outros, como Pandora ou Jango?

DP: 8tracks é uma rádio online com curadoria feita pelo público. Nós oferecemos uma maneira de as pessoas se conectarem através da música e explorar a música por meio de outras pessoas. Nossos DJs compartilham um determinado momento— uma experiência, uma ideia, um sentimento — na forma de uma playlist altamente profissional — uma mixtape online, para ser mais preciso. Os ouvintes se beneficiam da nossa seleção criteriosa e podem aproveitá-la num momento de relaxamento.

Dois elementos-chave nos diferenciam de Pandora e Jango. Primeiro, há uma pessoa, não um algoritmo, por trás da programação. Cada playlist conta uma história, e as playlists são organizadas em termos humanos, como atividade ou humor (por exemplo: estudar, malhar ou felicidade), bem como por gênero de música. O segundo é que a programação vai a um nível profundo, alcançando todos os estilos possíveis, o que garante um grau maior de descoberta de músicas, e menos repetições;

Vocês recentemente começaram a testar um novo processo de financiamento. Qual é sua visão desse processo — e como você decidiu ir por esse caminho?

DP: A 8tracks é movida por sua comunidade — é nossa comunidade que cria, compartilha e consome a programação. Muitos dos nossos usuários já se sentem apoderados da plataforma 8tracks. De acordo com isso, fez sentido permitir que a comunidade tivesse domínio da empresa também em termos econômicos.

Crowdfunding baseado no valor da companhia, com investidores que não fazem parte do mercado financeiro, foi um modelo que instituímos em junho de 2015, e que permitiu que os investidores eventuais pudessem direcionar seu dinheiro à empresa pela primeira vez. Como primeiro passo, mandamos uma pesquisa por e-mail para os nossos 17 milhões de usuários registrados, para checar se havia interesse em investir na 8tracks. Mais de 35.000 pessoas responderam, o que resultou num agregado de US$ 33 milhões de intenções de investimento.

Nós entramos com um pedido para que o negócio fosse autorizado pelo governo americano e, em 8 de junho, abrimos uma rodada pública de crowdfunding — limitada a US$ 11 mi. Esse financiamento vai nos ajudar a aprimorar o produto, ir atrás de negócios diretos com gravadoras e serviços agregadores, o que aumentaria nossar DJ Library, (o repertório de músicas) construiríamos uma equipe de venda de anúncios e teríamos como levar o maketing mais a sério.

Eu vejo paralelos entre esse processo e a maneira como artistas independentes incentivam seus fãs a ajudarem a fazer um crowdfund para seu novo álbum, vídeo ou turnê. Essa comparação é justa e se for, qual é a conexão?

DP: Sim, eu acho que há de fato um paralelo aí. Os fatores econômicos dos negócios no mundo da música podem ser considerados um desafio em todos os momentos. Entre os maiores desafios, para uma empresa média de rádio online, como a 8tracks, está o custo de royalties que temos de pagar para artistas e para as gravadoras. As taxas de royalty que pagamos serão mais viáveis conforme formos crescendo e nossa audiência for aumentando e se tornando mais interessante para marcas e agências de publicidade, e o apoio da comunidade garante que vamos crescer até um tamanho que nos garanta sempre poder seguir pagando esses royalties e também a comunidade.

Outra coisa em comum que sua empresa compartilha com os músicos independentes é que vocês reconheceram que há muitas oportunidades quando você está trabalhando num nível inferior às grandes estrelas, escondido do radar das grandes gravadoras e dos tomadores de decisão do mercado fonográfico — ou, no seu caso, achar um nicho rentável sem ter de seduzir os investidores bilionários. Você pode falar sobre como isso ajudou a 8tracks a evoluir?

DP: A 8tracks é o serviço de rádio online que mais atrai músicos independentes nos EUA e no Canadá, dois terços da música que colocamos em “streaming” vêm de gravadoras independentes ou artistas independentes. Essa montagem única surgiu organicamente porque os DJs são apaixonados por compartilhar músicas que eles descobriram, e que pode muitas vezes achar um público que as aceite em outras ferramentas, mais “mainstream”, com a nossa comunidade apreciadora de música. Um ethos central da nossa comunidade é cavar muito fundo na hora de encontrar músicas, para entregar talento para nosso público.

Há alguma vantagem em NÃO SER o queridinho do mundo da tecnologia? Isso te permite ser mais ágil?

DP: Eu acho que isso provavelmente seja verdade. O resultado de um crescimento rápido e a grande quantia de financiamento levantado por outros serviços como “unicorn” (mais de US$ 1 bi) fizeram com que algumas empresas do meio musical se forçassem a fazer produtos e adotar modelos de negócio que podem não ser os melhores no longo prazo. A 8tracks levantou uma quantia pequena de dinheiro (US$ 3,5 mi em quase uma década) mas nunca chegou a ser um dinheiro tão grande que os investidores pudessem fazer esse tipo de exigência para a gente.

Qual é o próximo passo nesse processo de financiamento?

DP: Cerca de US$ 4 mi dos US$11 mi que esperávamos levantar foram conseguidos com reservas de cerca de 4.000 usuários, e muitas outras reservas estão acontecendo agora. As pessoas que reservaram cotas podem investir antes das rodadas de investimento virem a público.

Como é um serviço comprometido com a música independente, seu investimento é bem-vindo! Você pode saber mais e começar a investir aqui https://www.seedinvest.com/8tracks/series.a. A rodada de investimentos seguirá aberta até batermos a meta de US$ 11 mi.

Como os artistas conseguem colocar suas músicas no 8tracks?

DP: 8tracks mantém negócios com os maiores distribuidores de música independente, como a CD Baby, então seu som vai automaticamente para o 8tracks, se você for um membro da CD Baby.

“Rádio” é um termo muito amplo hoje em dia (rádio terrestre, via satélite, online, customizável, etc.) …  Para que direção o rádio está indo, nos próximos cinco anos, e onde os artistas devem focar seus esforços, na hora de conseguir fãs através do rádio?

DP: Cerca de 80% da audiência da rádio ainda vem de estações transmitidas “pelo ar”, por rádio tradicional, mas nós podemos pensar que as rádios por internet vão dar um salto, conforme ficar mais fácil acessá-las do carro ou de casa, e mais gente tiver conexão móvel com a internet. A experiência de relaxar e ouvir rádio sempre foi uma das mais primárias na hora de descobrir novos sons, e nós acreditamos que ela seja essencial para artistas independentes, e que eles tenham representação na internet e em serviços como o 8tracks.