Quais são os benefícios mentais de tocar um instrumento?

Por Dylan Bartlett

Quem canta seus males espanta. E quem toca também!

A canção “Old Time Rock & Roll”, de Bob Seger, é um clássico. É uma música animada que muita gente ama. É difícil não imaginar ouvir a voz rouca do Seger cantando a letra: “Still like that old time rock n’ roll / That kind of music just soothes the soul.” (E ainda que nem o rock and roll das antigas, o tipo de música que acalma a alma).

E a música realmente acalma a alma, o corpo e o espírito. Tocar uma versão caseira da sua música predileta pode fazer bem à mente, além do espírito. Acredite se quiser, mas tocar um instrumento pode ajudar na sua habilidade cognitiva, além de também mudar a estrutura do seu cérebro.

As vantagens de tocar um instrumento valem para pessoas de todas as idades, o que significa que nunca é tarde demais para começar. Você não tem que ser bom que nem um Bob Seger para sentir essa melhora. Então, quais são as vantagens envolvidas? E quanto tempo você vai ter que passar tocando para um instrumento mudar o seu cérebro?

Os efeitos da música na sua cognição

Aprender a tocar música logo cedo tem um efeito positivo na maneira que seu cérebro vai processar os sons. Para ser mais específico, vai aumentar o número de ligações neurais para além das que nasceram com a gente. Por mais que músicos e não músicos tenham essas ligações, as áreas do cérebro ligadas à audição são mais ativas em músicos.

Um estudo mostrou que os lóbulos temporais ficavam muito mais ativos quando um músico ouvia sons se comparado a pessoas que não eram músicos. Pessoas que tocam instrumentos também têm chances maiores de ter mais massa cinzenta. Regiões que lidam com  som e atividade motora também são mais abundantes, tipo o córtex somatossensorial e o córtex pré-motor.

Você não precisa estudar centenas de horas por semana para conseguir ter esse cérebro marombado. Também não precisa ser um prodígio. Esses estudos apontam que, independentemente da sua habilidade musical, a música vai influenciar a estrutura do seu cérebro.

Aprender a tocar o clarinete, emprestado por um amigo ou parente, já basta para alimentar coisas ótimas ao seu cérebro. O que a gente aprende na infância permanece na memória por mais tempo por causa da neuroplasticidade do cérebro de uma criança ou jovem. Isso é a capacidade de o cérebro mudar. Essa neuroplasticidade é importante para criar as novas ligações do cérebro.

Isso não quer dizer que um adulto não possa mudar seu cérebro. Pessoas mais velhas que aprendem a tocar um instrumento recebem o estímulo mental muito necessário, já que o cérebro vai ficando mais lento com o passar do tempo.

Como os instrumentos fazem sua cognição bombar

Tocar um instrumento envolve várias partes do seu cérebro, especialmente as ligadas às habilidades motoras e cognição sensorial. Afinal, é preciso ter coordenação motora para tocar um violão, ou para apertar os botões certos do saxofone.

Suas habilidades cognitivas vão ficando mais afiadas, conforme você as vai exercitando. Isso vai permitir que você guarde mais memórias, e resolva problemas mais rapidamente. O aumento em massa encefálica também melhora o processo cognitivo. Quanto mais conexões neurais você tiver, mais forte será sua mente.

A música pode até adiar alguns tipos de demência e outras formas de declínio cognitivo em adultos. O cérebro fica mais resiliente se você exercitar tanto funções específicas — tipo a feita para ouvir— como as regiões gerais do cérebro. Uma revisão sistemática do cérebro de adultos que fazem música mostrou que a inibição, a velocidade de processo e a capacidade de atenção eram melhores. Os avanços mais importantes aconteceram em regiões do cérebro responsáveis por funções gerais, tipo argumentação e noção espacial.

Neuroplasticidade continua existindo depois de o cérebro ficar adulto, por mais que o órgão fique menos flexível do que nos anos de juventude. É mais difícil aprender coisas novas, mas o estímulo desse processo faz bem ao cérebro.

Com essas informações, você sabe que vai poder fazer rock até a terceira idade. Sua carreira musical pode te trazer muito mais do que um ganha-pão. Pode fortalecer sua mente de vários jeitos.

Dando um passo para trás, e vendo o contexto geral

Você já sabe que tocar um instrumento pode melhorar suas capacidades mentais, o que vai, por sua vez, melhorar sua técnica musical. Mas você sabia que também ajuda a falar e pensar?

Quando as regiões do cérebro que são responsáveis pelos idiomas e por ouvir criam novas conexões, não é segredo nenhum que a comunicação também melhora. Muitos cantores são ótimos compositores e curadores, o que mostra uma conexão entre o som e a fala.

Além da cognição, sua saúde mental também pode melhorar. A música pode aliviar os sintomas de depressão e de ansiedade, e baixar os níveis de estresse. Como várias análises mostraram, a música tem um efeito significativo na redução de sintomas físicos e psicológicos de estresse.

Alívio psicológico do estresse acontece por causa da ligação da música com a amídala — a central de emoções do cérebro. As amídalas de músicos tendem a mostrar taxas de atividade maiores do que as de não-músicos. Esse fenômeno sugere que artistas têm uma conexão mais forte com suas emoções, e uma capacidade mais aguda de identificar o que estão sentindo.

A música também pode trazer benefícios sociais. Ela oferece novas oportunidades para você se conectar com outras pessoas. Ao construir essas conexões, você vai criar relacionamentos que vão melhorar sua qualidade de vida.

Como tirar o melhor da sua música

Você pode aproveitar os benefícios listados acima, mas vai precisar ter esforço para isso. É preciso investir tempo e dedicação séria para colher as recompensas trazidas pela música. Comece treinando no piano, no violão ou em qualquer outro instrumento que encontrar.

Essa experiência de aprendizado vai ser a oportunidade de criar um espaço próprio para isso, um estúdio. Seu espaço não precisa ser riquíssimo, ou cheio de equipamentos. É só colocar uma escrivaninha na garagem e você vai ter um estúdio.

Simplifique seus equipamentos, coloque etiquetas em todos os cabos e guarde as coisas que não for usar. Só pegue o equipamento que for usar e guarde todo o resto. Use uma extensão para organizar a área. E você também pode:

  • Usar um espaço vertical
  • Instalar luzes acopladas na parede
  • Reservar um lugar só para os carregadores de bateria

Essas dicas são especialmente importantes se você tem um monte de equipamentos, ou um instrumento grande tipo uma bateria ou um teclado. Muitos músicos que trabalham sozinhos usam uma lógica circular para seus equipamentos. Esse tipo de arranjo permite que eles componham com seus instrumentos, e depois gravem com o computador, com todo o necessário ao alcance.

Quer uma dica para começar? Treine seu alcance vocal encontrando um Fá no seu piano ou no seu violão, e cante uma escala de notas a partir disso. Você tem de conhecer o escopo do sua voz e o alcance dela, para saber até onde pode ir.

Depois que você tiver encontrado seu alcance vocal, use o seu instrumento para treinar melodias vocais. Isso vai te ajudar a achar as notas certas.

Trabalhe sua mente fazendo aquilo que ama

Use essas informações novas e seu amor pela música para criar uma rotina pegajosa. Cada vez que você tocar, você vai além no seu conhecimento musical e cognitivo, e vai estar um passo mais perto de ser um artista e um ser humano ainda melhor que antes.

Quem disse que você não vai conseguir conquistar o mundo com seu talento? Sente-se com o seu instrumento e coloque sua mente para funcionar.  Você pode criar a próxima canção clássica “that kind of music that soothes the soul”, ou “o tipo de música que acalma a alma”.