Os maiores mitos sobre streaming musical

No tempo em que passo em conferências, respondendo e-mails, comentários de blog e mesmo quando estou só de boa com os meus amigos, ouço a opinião de muitos artistas independentes sobre o “streaming” de música — tanto as opiniões positivas quanto as negativas.

Algumas dessas opiniões são bem-informadas, enquanto outras parecem ser baseadas em mitos. Vamos dar uma olhada em algumas delas!

1. Não existe dinheiro no streaming

TEM dinheiro a se ganhar com “streaming” de música. Por exemplo, a banda Tycho, indicada ao Grammy, hoje tira 53% da sua renda do Spotify.

No mundo das grandes gravadoras, entretanto, a maioria das músicas é escrita por equipes de várias pessoas. Se o artista tiver a sorte de ser creditado como um dos autores, ele ainda vai ter que dividir os royalties de publicação com outras três, seis ou doze pessoas. Quanto aos royalties gerados pelo  streaming de uma gravação, bom, digamos que as gravadoras fizeram um ótimo trabalho em manter uma grande parte desse dinheiro para elas mesmas. Então, quando você escuta a Estrela da Música X dizer que teve 100.000.000 streams no Spotify e só ganhou o dinheiro pra comprar churros, olhe para essa informação com um pé atrás;. Esse dinheiro está indo PARA ALGUÉM.

Para os artistas que detêm 100% dos direitos autorais de publicação e da gravação sonora, toda a renda gerada com streaming acaba no bolso deles. Sem pagamentos adiantados à gravadora, esquemas de licenciamento de catálogo ou divisões complicadas. A partir daí, se você for esperto e/ou sortudo o suficiente para ter uma música usada numa playlist de sucesso, já está com o ano ganho. O sucesso de uma única canção numa plataforma de streaming  também vai criar interesse por outras músicas ou álbuns do seu catálogo, o que vai gerar mais renda.

E as coisas vão continuar sendo assim, já que o streaming hoje responde por mais de 50% da renda de música, e levou o mercado fonográfico a ter seu maior crescimento em duas décadas.

2. O streaming matou o álbum

Mentira. O streaming não matou o álbum. Foi o download que matou. Assim que o Napster se popularizou, as pessoas pararam de comprar um álbum só por causa de uma música que curtiam.

Eu inclusivo argumento que o streaming pode AJUDAR os álbuns.

Quero dizer, e não me leve a mal, que playlists em streaming  são a forma de organização que as pessoas mais usam para música, é claro, mas o fato de não ser preciso pagar a mais para ouvir o resto do repertório do artista faz com que os ouvintes ouçam muitas coisas do seu catálogo.

Nos dias do download, você provavelmente não pagaria US$ 10 para ouvir algo em que estava minimamente curioso. Hoje, você pode ouvir álbuns e álbuns sem preocupação. Se você curtir, continua ouvindo. Se não curtir, passa pra próxima!

3. Eu posso sair de serviços de streaming ou fazer “windowing”, para vender mais?

A Taylor Swift pode sair dos serviços de streaming. A Adele pode lançar seus álbunse só semanas depois colocá-los em streaming. Você — provavelmente — não pode.

“Windowing” é o nome em inglês para lançar uma música em datas diferentes para diferentes plataformas, assim você leva os fãs a fazerem aquilo que vá te beneficiar mais. De novo, isso pode funcionar para a Adele. Os fãs dela vão aonde ela mandar. Mas vale se perguntar: e eu, sou a Adele?

Se sua música não estiver no Spotify (ou talvez no YouTube), eu não vou ouvir, e ponto final. Não vou fazer download. Não quero ficar com arquivos no meu computador. E eu não ligo se você me enviar um CD, nem que seja de graça; é provável que eu nem abra. Meu único CD player fica no carro, e quando eu estou no carro eu quero ouvir Pânico.

Então… não faça windowing e não saia do streaming. Esteja em todos os lugares, porque seus fãs precisam que você os encontre onde ELES estão. Não vice-versa.

4. Todos os serviços de streaming são mais ou menos a mesma coisa

É fácil presumir isso. Encontre um arquivo de música digital. Toque em streaming.

Mas há diferenças reais entre as plataformmas, e cada uma oferece uma experiência diferente:

  • YouTube Red vem com um componente de vídeo (e um acesso a todo conteúdo do YouTube sem propagandas).
  • O Pandora Premium tem acesso aos seus hábitos do Pandora Radio e te oferece uma seleção cutomizada.
  • A Apple Music aposta pesado em curadoria humana, com playlists próprias e o serviço de rádio Beats.
  • O Spotify é baseado em dados que fez sucesso porque incentiva o usuário a criar suas próprias playlists, o que ensina ainda mais coisas para seu algoritmo.

E daí por diante. Em vários graus, as plataformas de streaming são diferentes umas das outras.

5. É uma questão de tempo até que as pessoas percebam que eles têm saudades de discos ou de CDs

Sim. Eu ouço isso, real. Ah, a nostralgia.

Se você cresceu ouvindo disco de vinil ou CDs, eu entendo — você tem saudades deles (ou de algum aspecto deles). Mas a maioria das pessoas que nasceram nas últimas duas décadas não têm saudades deles, não precisam deles e não vão querer eles de volta.

MÚSICA é o que importa. Não o tamanho do encarte ou o disco brilhante em que a música está. É a música que passa pelas suas orelhas e vai para o seu cérebro.

Mito Bônus: se a gente boicotar o streaming, todo mundo vai ter que voltar para [insira o formato: downloads, CD, cassete, vinil, cilindro de cera, show ao vivo, cantiga de roda…]

Para isso eu digo: TENTA! Eu geralmente apoio qualquer ação organizada. Boicotes podem ser bem eficientes.

Mas olha que coisa, o Ed Sheeran não está boicotando esses serviços de “streaming”. Sabe por quê? Porque tá ganhando caminhões de dinheiro com eles.

Então quem quiser tirar a música do, digamos, Spotify — não fará tanta diferença, porque sua música não é tão importante quanto a do Ed Sheeran ou a do Drake. Daí você vai ficar pra fora da festa, porque seus fãs em potencial vão estar dançando com o som de outros artistas.

 

Eu esqueci de comentar algum dos mitos do streaming? Se sim, me conte abaixo. E diga por que ele não é verdade.