shutterstock_68040385[Este post foi escrito pela colaboradora Jessica Blankenship  do Muzooka.com. Ela já escreveu para os sites Jezebel, Thought Catalog e Creative Loafing. Seu Twitter sobre música é o @Muzooka.]

Ei, vocês já ouviram falar de internet? Cê sabe, aquele treco esquisito que fez a pornografia melhorar tanto e basicamente mudou tudo para sempre? É, aquele negócio. Agora que estamos na Internetlândia há duas décadas,  parece que a maior parte das indústrias já entendeu e abraçou o mundo digital para seus negócios; nós não precisamos mais sair de casa para fazer compras, e quem se lembra da última vez que assinou um cheque para pagar a conta de luz? Então parece razoável que, se as indústrias mais coxinhas conseguiram entender e usar a internet, com certeza as indústrias mais criativas também já caíram na rede, certo? É, nem tanto.

Parece que, de todos os mercados, a música foi o campo dos negócios que mais teve embates com a rede e atrasou em seu uso.  Acontece que vender um produto criativo não necessariamente significa ter táticas de mercado criativas. Brigas jurídicas sobre direitos autorais e a luta contra a pirataria reinaram na mídia nos últimos dez anos. Tudo isso nos traz à pergunta: como nós como indústria fonográfica lutamos contra o que a tecnologia deu aos nossos clientes, acesso irrestrito às músicas, e que periga destruir todo nosso modelo de negócio?

E essa é uma questão legítima. Historicamente, o sucesso da indústria fonográfica depende de gravadores e editoras atuarem como controladores. Eles são os porteiros para quem os fãs precisam pagar se quiserem ouvir o som de alguém. Por todo o século 20, se você quisesse consumir música, tinha três vias: rádio, shows e comprar discos/fitas k& ou CDs. E só isso.

Do outro lado, se você era um artista na época pré-internet, você era dependente de grandes gravadoras para te tirarem da escuridão e te jogarem nos braços dos fãs.Mas hoje em dia ser uma banda independente significa ter um infinito de possibilidades, como angariar fãs, fazer turnês e se apresentar. Sem a necessidade de um “porteiro” mágico. E manter o modelo de negócio antigo das gravadoras era fácil.

E como isso mudou? Não precisa nem elaborar a história, que todo o mundo já sabe: A Internet chegou e, e começou a desmontar o processo que parecia inquebrável dessa indústria. De uma hora para outra, ouvintes podiam não só ouvir, mas possuir álbuns inteiros (antologias inteiras) – de graça. Gravadoras, artistas e quase todo o mundo que era alimentado pela indústria fonográfica caiu fora da equação. Não preciso dizer que eles não morreram de amor pela ideia. Anos de processos e esforços da indústria fonográfica depois, para acabar com o inimigo chamado “grátis”, e ele ainda não foi derrotado. (Calhou que encaixar o grátis como “ilegal” era uma boa arma, mas isso é história para outra hora.)

Para ser justa, o relacionamento entre o mercado musical e sues clientes parece ter chegado a um ponto de estabilidade nos últimos anos; serviços de “streaming” online (em que se ouve a música sem baixá-la para você) e vendas de músicas digitais ao menos começaram a monetarizar o consumo de música digital. Então por que parece que ouvintes e gravadoras ainda andam às rusgas, enquanto os artistas estão sentados no meio, como crianças confusas num divórcio?

Uma resposta possível: as grandes instituições do mercado musical ainda estão vendo os clientes só como clientes, enquanto a nova realidade os coloca numa posição de colegas.

Quando uma gravadora olha um ouvinte só como cliente, eles são submetidos à lógica de “como colocar o dinheiro deles no nosso bolso?”. Mas se a indústria fonográfica mudasse sua perspectiva e passasse a olhar aos ouvintes como parte vital para a indústria musical, que agem ativamente , pode ser muito mais fácil de mante-los por perto. É uma situação de “atrair moscas com mel, não com marketing”.

Pense no assunto assim: não importa para que indústria você esteja olhando, as pessoas tendem a se aproximar muito mais de negócios dos quais elas se sintam participando. Dê a alguém uma chance de fazer a diferença em algo e ela te dará sua lealdade; o apoio ao seu negócio passa a ser o apoio ao nosso negócio. E essa máxima vale para a música.

Quanto? Aí vamos nós: Um dos maiores problemas do encontro da indústria da música com a internet é que artistas podem agora se encontrar diretamente, cortando o papel das grandes gravadoras, seus relações artíticas e relações públicas do processo todo. No curso da última década, os artistas aprenderam (uns mais, outros menos), como desempenhar essas funções eles mesmos. Os artistas ainda estão usando publicitários? É claro que estão. Mas ultimamente isso é visto como um luxo. As bandas não são mais formadas com a missão de “ser descoberto e chegar lá”; elas crescem com a lógica de “faça você mesmo, e faça muito bem…e então você vai chegar lá.”

Parte dessa lógica nasceu lá atrás, com uma das razões de as gravadoras terem tanto poder no começo: como o “ser descoberto” parecia impossível. A qualidade única e especial de trombar com o representante de uma gravadora  e ele te chamar para gravar, ser divulgado e vendido como uma estrela só acontecia com uns poucos…  e estar entre esses poucos tinha tanto a ver com sorte e estar no lugar certo na hora certa quanto tinha com ter talento. E é assim que as gravadoras tinham tanto poder. Eles escolhiam (e em muitos casos criavam) suas estrelas. Então, quando veio a internet e os artistas se deram conta de que tinham as ferramentas para fazer isso eles mesmos, começaram a fazer isso com gosto. Agora, se apresentar em lugares pequenos rezando para ser descoberto não era a única opção. As bandas podiam gravar, distribuir sua música on-line, encontrar fãs, marcar turnês, vender ingressos, álbuns e mercadorias e twittar seus próprios comunicados à imprensa, com 140 caracteres. Enquanto isso, corta a cena para os executivos de grandes gravadoras em todo o mundo se borrando nas calças.

Mas, como costuma acontecer, a situação não parou de se desenvolver aí. O fato de os artistas poderem ser sua própria máquina de hype significava que a internet se tornaria um furacão de som branco – artistas demais tentando se vender com muito afã, com aparente menos músicas inovadoras e de qualidade. E acabou-se mostrando que o fator “esperando para ser descoberto” dava às bandas muito mais tempo para trabalhar e criar música interessante porque era essa a parte do negócio pela qual elas eram responsáveis. Já em 2014, com tantos artistas tomando para si a responsabilidade por suas carreiras, é possível que a qualidade da música esteja sofrendo? Muitos (e eu digo muitos) dos ouvintes diriam que sim. E aqui está: acontece que desmembrar a indústria musical do modelo que existiu por cem anos tinha um lado negativo (e neste texto só estamos abordando um lado ruim no aspecto criativo; isso para não mencionar o grande números de empregos que se perdem quando a indústria de entretenimento musical toma um golpe do tamanho que a fonográfica tomou nos últimos 15 anos.)

Então há um novo dilema: neste momento, tanto artistas quanto o público está se sentindo um pouco nostálgico da época pré-revolução da internet. O problema é que o que foi feito não pode ser desfeito; a cortina foi levantada e os ouvintes e artistas não estão mais no escuro sobre como funciona a máquina da indústria musical. Além de que, eles agora já estão há tempo demais dirigindo para devolver o volante para as grandes gravadoras.

Então qual é a solução? É aí que nasce a ideia de trazer os ouvintes de volta ao processo, mas de um jeito mais ativo Se as gravadoras acharem um jeito de entrar numa boa nas plataformas onde ouvintes e  artistas se encontram e dialogam, então talvez o jogo melhore para todos. Mais do que tentar obrigar o cliente a voltar à época em que ele ouvia o que ele devia querer, em vez de escolher como hoje, as gravadoras podem não só aceitar o poder da massa da internet, como também usá-lo, e aí estariam num lugar incrível.

O fato é que artistas e ouvintes têm agora uma boa soma de anos estando à frente de seus negócios, tanto comprando quanto vendendo música. Mas não seria benéfico para todo mundo se eles pudessem se valer do poder das grandes entidades fonográficas, como descoberta/produção/vendas sem se sentir excluídos do processo? E os ouvintes não ficariam muito mais animados com uma seleção de novas (e boas) músicas se as bandas passassem mais tempo compondo e gravando do que cuidando de suas relações públicas?

Não importa como a carruagem seguir andando, ainda há muitas perguntas sem respostas a saber como seguirá a indústria fonográfica. Mas uma coisa está clara: tentar colocar ouvintes, artistas e gravadoras à força no seu lugar “original”, pré-Internet não vai rolar. Todos sairiam ganhando se os pesos-pesados do mercado vissem que nunca vão conseguir retomar seu poder absoluto – mas que eles seriam bem-vindos na festa se reconhecerem o novo poder de cada parte.

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