“Falar de amor é uma coisa transgressora”, diz Johnny Hooker

O artista da CD Baby, Johnny Hooker, deu uma entrevista à Billboard sobre sua vida e sucesso como artista independente. Este artigo foi originalmente publicado pela Billboard Brasil. Você pode ler o original aqui.

Cantor está lançando seu novo álbum, Coração, neste domingo; primeiro single, “Flutua”, foi censurado no YouTube por mostrar imagem dele e de Liniker se beijando

por Rebecca Silva em 21/07/2017

O cantor Johnny Hooker está trabalhando na divulgação de seu novo álbum, Coração, que será lançado neste domingo (23/07) com patrocínio do edital da Natura Musical. O primeiro single, “Flutua”, parceria com a cantora Liniker, foi lançado oficialmente nesta quinta-feira (20/07) e o disco vai contar com distribuição digital também nos Estados Unidos via CD Baby.

Ainda sem clipe, a faixa foi divulgada apenas no formato de áudio, com a capa mostrando os dois se beijando. Apesar da ótima recepção por parte dos fãs, Johnny acordou na manhã desta sexta-feira (21/07) com a notícia de que o vídeo tinha sido censurado para menores de 18 anos no YouTube.

Procurado pela Billboard Brasil, o YouTube informou que não comenta casos específicos, como esse de Johnny Hooker. Um vídeo pode ser classificado como adulto pelo próprio artista, ao assinalar “+18” no momento da publicação, por conta de denúncias de usuários da plataforma ou ainda por curadoria interna do YouTube, que monitora as postagens.

O próprio artista considera que, no seu caso, o vídeo foi censurado por denúncias e afirma: “Eu acho simplesmente deprimente em 2017… Uma foto de um beijo entre duas pessoas ter censura de 18 anos. Nem meu show tem censura de 18 anos”.

Leia a entrevista completa com Johnny Hooker abaixo:

 

Você disse nas suas redes que Coração é muito diferente do seu disco anterior. Em qual sentido? Qual foi a sua inspiração?

Macumba são águas mais profundas, falo sobre vingança, desolação. Coração é sobre sobrevivência. Foi feito em um momento da vida em que eu precisava sobreviver. Esse é um momento transformador para mim, para amigos próximos, da minha geração e também para o país, a política. É uma época tensa, o Brasil em um cenário de terra arrasada, com ascensão de um fascismo retrógrado. A arte é resistência, é arregaçar as mangas para colocar tudo nos eixos novamente. Tive um momento de ascensão em nível nacional que foi mágico, mas tortuoso. Fiz muitos shows, sofria com a pressão de dar 100% de mim, não comia nem dormia direito. Me separei de um casamento de dois anos e meio no fim da turnê. Esperei que houvesse compreensão e não houve. Uma depressão que já vinha de anos sem ser tratada. Tudo isso culminou no início do processo de produção do disco. A história do Macumba não reflete quem eu sou agora. Sou leonino com ascendente em escorpião. Gosto de dizer que o Macumba é meu ascendente e o Coração é meu sol. Precisei reafirmar minha vida, minha posição no mundo e minhas crenças. Foi muito complicado, mas coloquei no disco de forma combativa. Falo sobre relacionamentos abusivos e como se livrar deles. Quis abrir o leque e trazer outros temas também. Eu sou intenso, encaro a vida de frente e isso se reflete na minha música.

O disco conta com as participações de Gaby Amarantos e Liniker. Como pensou nesses nomes e como foi o processo de produção dessas músicas?

Gaby sempre foi paixão minha, sou apaixonado pela música do Pará. A gente já se conhecia, já paquerava uma parceria. Fiz “Corpo Fechado” sobre um relacionamento abusivo. Foi ótimo. É um carimbó meio eletrônico, muito divertido. O 1º single é “Flutua”, parceria com a Liniker. Faz parte daquele desejo de abranger o leque temático. Fala da vitória do amor. Quando a Liniker estourou, lembro de assistir ela cantar e ver um ser flutuando, um fenômeno. Ela foi até Recife para gravar. A música tem uma atmosfera de hino, de resistência. Não poderia estar mais feliz.

O vídeo com o áudio de “Flutua” foi publicado no YouTube nesta quinta-feira (20/07). No dia seguinte, porém, o vídeo foi censurado para menores de 18 anos. Como recebeu a notícia? Tentou reverter a situação?

A resposta dos fãs foi incrível, uma onda de amor e carinho, uma recepção que não poderia ser melhor. Quando eu acordei hoje (21/07), os fãs estavam me falando no Twitter que tinha sido censurado. Eu vi o e-mail do YouTube, dizendo que tinha sido censurado para menores de 18 anos. Eles dão um direito de resposta, de contestação, que eu já mandei para eles, vamos ver no que vai dar. Acredito que tenha sido por conta de denúncia. Eu acho simplesmente deprimente em 2017… Uma foto de um beijo entre duas pessoas ter censura de 18 anos. Nem meu show tem censura de 18 anos. Fiquei abismado mesmo. O próprio Facebook não permitiu patrocinar o vídeo para alcançar um público maior porque avaliou que tinha conteúdo sexual na imagem. Acho que é completamente falso e triste porque cansamos de ver imagens com coisas escabrosas, animais sendo mortos, violência. Agora, um beijo não pode? Não entendo. Isso só prova que falar de amor é uma coisa transgressora nos dias de hoje e de sempre, né?

Você faz parte de uma geração de artistas que carrega muito essa mensagem de resistência e que demonstra muita parceria. Como é isso?

Essa geração não tem rivalidade. É um momento complicado para o mercado, para o país. Mas todo mundo colabora, tem união. Me mudei há dois meses para São Paulo [Johnny estava morando no Rio de Janeiro] e voltar para a cidade me encheu de esperança. O leque de possibilidades é maior, o encontro com artistas. No Rio tem muito vício da TV, não tem essa troca. Infelizmente, a cidade foi saqueada, quebrou. Se tornou um lugar agressivo para morar, você sente a tensão social e o abandono no ar. Só os grandes medalhões continuam por lá. Já São Paulo funciona, apesar da desigualdade imensa, ainda flui.

Você é de Recife. Vê muita diferença entre as cidades em que já morou?

São Paulo e Recife são plurais culturalmente. Recife por si, São Paulo abraça as culturas do país inteiro. Para mim, São Paulo é a única cidade cosmopolita do Brasil e Recife jura que é, acha que é Nova York [risos].

Você vai se apresentar no Palco Sunset do Rock in Rio deste ano ao lado de Liniker e Almério. Como rolou a ideia da parceria? Qual a expectativa?

Quando fui chamado para participar, me pediram sugestões de nomes para a parceria. Logo pensei na Liniker e no Almério, meu amigo e artista de Caruaru. O show vai ser baseado no meu e terá as participações. No final, vamos nos juntar e fazer a mistura. Quero que seja orgânico. É a primeira vez que eu e Liniker vamos cantar “Flutua” ao vivo juntos, será um momento superpolítico e emocionante. Os ensaios vão rolar mais perto do festival, mas já estamos traçando o roteiro.

Quem você quer ver e quem gostaria de ter visto no Rock in Rio?

Desta edição quero muito ver Lady Gaga, Justin Timberlake e Niall Rodgers com o Chic. Do passado, queria ter visto o Queen, na 1ª edição. Minha mãe foi de Recife ao Rio de ônibus para ver este show.

Sua mãe é uma grande referência para você, né?

Sim. Vi minha mãe [Liz Donovan, cineasta] de moicano, encarando de frente o machismo e o preconceito. Ela é referência de mulher, de pessoa e de artista também.

Ouça Coração: