Dicas de Como Marcar Show: como abordar uma casa de shows

Uma entrevista com Lucan Wai, da The Central & The Smiling Buddha (Parte 1)

[Este post foi escrito pelo Alex Andrews, do Ten Kettles Inc. e apareceu originalmente no blog deles. Confira esse app para aspirantes a compositores: “Waay: Music theory that matters.” Clique aqui para saber mais sobre suas aulas em vídeo de tamanho reduzido, exercício interativos e ferramentas que diagnosticam seu progresso!]

Se você está numa banda que se apresenta (ou está prestes a poder se apresentar), então marcar shows vai fazer parte da sua vida. Escolher a casa de show, decidir o qual será o preço do ingresso, organizar as bandas, escolher entre usar um promoter ou montar seu show individualmente —é provável que você já tenha lidado com tudo isso. Mas talvez você ainda tenha algumas dúvidas.

Esta semana nós vamos mergulhar na lógica de como se marca um show com alguém que tem muita experiência nesse assunto: Lucan Wai. Lucan é o dono da The Smiling Buddha e sócio da The Central—duas casas de show em Toronto que são muito populares, tanto com bandas novas quanto com outras que já tocaram lá.

Recentemente eu sentei para conversar com o Lucan no The Central. Falamos sobre sua experiência trabalhando com bandas e promoters, como organizar shows ótimos e seus conselhos para bandas novas. Lucan trabalha com mais de 1000 bandas, locais e que visitam sua região, por ano, então vale a pena conferir isso. Aqui vai a primeira parte da nossa conversa (que foi um pouco editada por motivos de clareza e de tamanho).

Abordando uma casa de shows

Alex (Ten Kettles): Primeiramente, obrigado por topar se encontrar comigo. A The Central existe há dez anos. Você sempre escolheu as bandas que tocam aqui do mesmo jeito, ou algo mudou?

Lucan: A gente costumava escolher as bandas por aqui mesmo, a equipe e eu. No passado, quando eu só tinha a The Central, era fácil fazer isso por conta própria. A maioria dos meus funcionários é de músicos, tem alguns comediantes também… Eu diria que uns 80% dos funcionários das duas casas são músicos. Isso faz com que a gente seja bem conectado com a cena local de música. Há muita gente nessa cena. Hoje em dia tem uma porção de promoters trabalhando comigo, tipo o Gabe Koury da Little Monkey Press. Antigamente, a gente fazia a programação—minha equipe e eu—mas agora a gente contrata promoters.

Alex: Das cerca de 30 bandas que você contrata por semana, quantas vieram de um contato direto com a banda, e quandas vieram através de empresários ou promoters?

Lucan: Eu diria que na The Central,uns 3 ou 4 shows por semana são feitos com promoters… No inverno a gente tende a ter mais atrações da casa, já que as bandas estão menos ativas. Na primavera e no outono, quando tem mais coisas acontecendo, só contratamos às vezes com promoters. No Buddha, a gente está promovendo a CMW (Canadian Music Week, ou semana de música do Canadá) e o NXNE (festival North by Northeast) então essas seamanas são só focadas nesses festivais.

A gente trabalha muito com o Collective Concerts. Eu diria que o Buddha teria 5 de cada 7 com bandas de promoters. Depende. Eu tenho uns caras, não sei se você os consideraria promoters, que trabalham como barman na casa e têm pequenas empresas de divulgação. Não sei se considero isso como marcar shows com a equipe ou com gente de fora. A maior parte dos meus promoters, além do pessoal da Collective e de outras empresas grandes, a maior parte das pessoas que faz divulgação de bandas também trabalha no bar ou em outro setor da casa.

Alex: Você, como dono de casa de show, recomendaria o que às bandas que querem tocar pela primeira vez lá? Você prefere que elas entrem em contato por email, telefone… apareçam lá?

Lucan: Eu prefiro email, porque é um bom jeito de se mandar links. Você pode mandar os links com suas músicas, seu Bandcamp. E também dá uma boa oportunidade de ver o que essa banda está fazendo, conferir o que ela já fez.

Alex: OK, e o que as bandas devem te mandar num email?

Lucan: Links para suas músicas, seu perfil no Facebook, Bandcamp, SoundCloud. Com certeza é o que recomendo.

Alex: O que você procura nesses emails? Qualidade de som das bandas ou sua popularidade?

Lucan: Depende. A gente está promovendo shows todos os dias. Se é um fim de semana e tem muita gente trabalhando na casa, queremos que seja um sucesso de público. A maioria dos meus funcionários é músico e depende desse trabalho para fazer sua música, pagar suas turnês. Então eu quero garantir que estamos cheios em algumas noites. Então nas noites de quinta, sexta, sábado, domingo, eu gosto de escalar bandas que têm mais sucesso mainstream, para as pessoas que passarem por ali e ouvirem pensarem: “Eu posso entrar aqui, se vier com os meus amigos vou me divertir.”

Eu não acho que é tão difícil [fazer as pessoas saírem à noite]. Toronto é um lugar grande, então independente do tipo de música de que você goste, sempre haverá algo, e haverá mais pessoas interessadas nisso. Especialmente porque minhas casas de show não são tão grandes. (A The Central acomoda 65 pessoas, quando está com mesas para o jantar e, nos fins de semana, tiramos as mesas e acomodamos 100 pessoas.) Se você escalar três ou quatro bandas, e cada integrante das bandas trouxer cinco pessoas, já temos um bom público.

Conseguindo público

Alex:Quem é o responsável por conseguir trazer as pessoas, em um show promovido por promoter?

Lucan: Eu diria que depende do acordo feito.Depende do promoter. Alguns deles têm uma fama melhor, ou estão fazendo isso há tempo o suficiente para as pessoas irem até seus shows. As pessoas veem que esse cara vai fazer um show e já sabem o que esperar, sabem que valerá o programa. E há promoters menores… e nesse caso seria 95% responsabilidade da banda. Você tem que falar com o promoter e ver quais são as expectativas de ambos. Fale com ele antes e saiba o que esperar.

Alex: Você acha que as empresas maiores de divulgação só esperam que as bandas vão até lá e toquem (sem promover seus shows)?

Lucan: Não sempre, porque se você é uma banda que está se estabelecendo ainda, e estiver abrindo o show de uma banda mais famosa, você não opode contar com a fama do outro grupo para trazer todo o público. Você tem de perguntar ao promoter: quais são seus planos? Vai distribuir fliers? Postar no Facebook? Vender ingressos? Como vai divulgar? Há um monte de promoters que estão começando, e eles se esforçam muito, mas às vezes depende mais da banda mesmo.

Alex: Tem muitos músicos que pensam assim: “O lugar me chamou para tocar, então eles que têm de levar o público para lá.” O que você acha disso? Parece haver muita opinião diferente quanto a isso nas bandas

Lucan: Acho que depende da casa de showsI. Tem lugar que sempre é movimentado.Eu conheço vários pubs por aqui… eles têm a certeza de movimento, só precisam de alguém para tocar e entreter esse público, fazer eles ficarem um pouco mais ali. Há tipos diferentes.

Se você olhar para o Buddha, por exemplo, a maioria das pessoas vai lá por causa dos shows. Tipo, eles não estão especificamente interessados no estilo de música, nunca ouviram falar da banda. Já na The Central tem muita gente que aparece, coloca a cabeça para dentro, confere como é o som. Mas você também tem de converncer essas pessoas a entrarem. (É por isso que tem um espaço na entrada em que não cobro couvert, como faço na pista)

Você tem de perguntar as coisas quando vai marcar um show. Pergunte: vocês têm um público frequente? Vocês já acham que têm público, ou nós que temos de trazer? A gente geralmente combina de dar parte da entrada para a banda, que fica incentivada para trazer mais gente.

Alex: Legal, acho que esses conselhos são bem úteis.

Lucan: Antes de marcar um show ou de trabalhar com um promoter, pergunte o que tem de perguntar.

Alex: Então uma banda vem e toca. Quanto você diria que tirou nessa noite para ter sido boa?”

Lucan: Depende da noite da semana. Minha expectativa para um domingo ou uma segunda é bem menor do que para um sábado. E depende do tempo que aquilo me custou: se a banda tocou por alguns minutos só, vou levar isso em consideração. Eu gosto de ver que as bandas estão se esforçando, que estão levando a sério, aparecendo antes do horário, ou no mínimo no horário. Que estão sendo profissionais.

Mas eu tento não levar a renda da noite muito a sério. Porque sei que varia. Há muitos fatores : o clima, o que mais está rolando na cidade… você pode muito bem marcar um show e logo em seguida alguém marca um show parecido atravessando a rua. Há tanta casa de show por aí. E eu sei que coisas acontecem, tipo o metrô parar ou o tempo estar titica. Há muito acontecendo em Toronto, então é difícil prever. Já tive bandas maravilhosas que, por alguma razão, não lotaram a casa. Você não precisa se pressionar. Ser músico já é difícil o suficiente, não fique se cobrando de ter uma noite rentável toda noite.

Alex: Então a preocupação principal é que a banda se esforce e consiga uma plateia razoável na maioria das noites…

Lucan: Eu acho que, se o seu esforço é sincero, uma hora vai dar certo. Nem todo show vai estar apinhado de gente, mas você verá que a pessoa está se esfoçando. E isso te dá a confiança de que na próxima vez haverá mais gente. Se eles continuarem se esforçando em todos os shows, uma hora há de dar certo.

A casa de show tem de fazer sua parte. Nossa parte. Divulgar o show para Now Magazine, The Star,ou na nossa página de Facebook. Se eu vejo que uma banda não tem uma página de Facebook, já penso que eles só vão mandar uns 40 convites para o show…
Tem umas bandas mais antigas que dizem. “Eu não trabalho com Facebook, não curto isso” e tudo bem para mim. Mas, se eu vejo uma banda mais jovem logo pergunto: “Por que vocês não fizeram uma página de evento no Facebook?”

Alex: Mas, se eles vão atrair o público mesmo sem isso, acho que daí não importa…

Lucan: Certo, mas pelo menos eu sei que eles estão se esforçando. Você vai ver que eles virão, que eles vão conferir a casa de show bem antes, que falarão com minha equipe, com o engenheiro de som. Vão fazer perguntas sobre a noite. Então mesmo que eles não tragam um público grande, estão se esforçando.

Sobre o pagamento das bandas

Alex: Qual é a combinação, geralmente, as bandas ficam com o couvert?

Lucan: A gente garante isso para algumas bandas, com quem já negociamos e que sabemos que vão trazer público.

Alex: Vocês fazem também por uma porcentagem do bar, tipo 10% das vendas?

Lucan: Sim, pode ser uma porcentagem do bar. Depende. Se você vai fazer um show com jantar, em que não sabe exatamente o quanto vai lucrar, pode ser só uma porcentagem do bar. Mas, se a banda puder cobrar $5 ou $10 de cada pessoa, isso vai ser mais do que qualquer porcentagem que eu puder te dar. Daí você terá seu dinheiro independente de as pessoas estarem bebendo ou não… e adiantado. Mas, se você está começando e ainda não sabe quantas pessoas consegue atrair, podemos negociar um percentual das vendas. Mas teria de discutir as garantias e essas coisas. Isso se você tiver feito um ou dois bons shows já e eu souber que você promoveu o show.

Já lidei com bandas para quem dei um adiantamento, depois eles marcaram um show uma semana depois do meu. Não vão conseguir atrair tanto público com dois shows. A gente tem de ensinar exclusividade. Eu pergunto “Você vai fazer mais algum show?” Se a pessoa pede um adiantamento, eu olho para os shows que fizeram no passado, o quanto estão cobrando por ingresso. Quantos outros shows farão na cidade.

Alex: E para o leitor que não sabe o que é a lei da exclusividade, é uma regra de que a banda não vai fazer dois shows muito próximos, não?

Lucan: Sim.

Alex: Então com que frequência uma banda pode tocar, se ela quiser se apresentar muito, sem que as casas de show fiquem boladas?

Lucan: Eu só recomendaria ser honesto. Eu conheço muita gente que pensa “Sabe, a gente não tem certeza que consegue trazer muita gente para um show no centro”, e a gente conversa sobre o assunto. Daí talvez negociamos um percentual do bar, ou os colocamos para tocar num jantar que atraia pessoas mais por causa da comida

Muita gente diz que só pode tocar de fim de semana Se você só pode tocar de fim de semana porque uns integrantes da banda trabalham durante a semana, eu entendo. Mas, se você só toca de sexta e sábado porque fica ofendido de tocar numa quinta, eu não entendo. Talvez valha mais ser sincero e dizer “Queremos aprecer mais”, e assim a gente pode te colocar para tocar com outras bandas que já têm mais fãs.

Para a próxima vez

Da próxima vez, Lucan e eu falaremos de como reunir uma banda para o primeiro show, definir um bom preço de ingresso, e como fazer valer o primeiro show. Você pode saber mais sobre as casas de show dele no Facebook e Instagram, e saber como marcar seu show em Toronto nos sites thecentralbar.ca e thesmilingbuddha.ca. Dúvidas, comentários, sugestões? Compartilhe com a gente na seção de comentários, aqui embaixo.

Sinceridade total: eu tive a sorte de tocar nessas duas casas de show algumas vezes, nos últimos anos.

Biografia do autor: Alex Andrews é engenheiro, músico e comanda a Ten Kettles Inc. em Toronto, Canadá. Ten Kettles é uma empresa de apps que faz aplicativos de educação musical, incluindo o Waay para composição e teoria musial, o hearEQ para treinar o ouvido, e o BeatMirror, que será lançado em breve, para determinar o ritmo de uma música.