Se você está gravando num estúdio caseiro, mesmo que você se preocupe com a acústica, é provável que você não vá conseguir competir com um ambiente de estúdio profissional. Pode haver algumas situações em que capturar sons ambientes e ecos pode ser exatamente o que você quer, e algumas outras situações em que isolar o som do ambiente em que ele foi gravado é a melhor coisa a se fazer.
Em todo ambiente de estúdio, há coisas simples que você pode fazer para maximizar a qualidade das suas fontes de som e conseguir gravar melhor o desempenho dos seus músicos, e que vai capturar o som no estado mais puro o possível.
Foque no seu instrumento
Mesmo que esteja nas mãos do melhor músico, um instrumento mal afinado não vai ficar bom numa gravação. Cuidar do seu instrumento, e prepará-lo para a gravação, é o primeiro passo para garantir a qualidade da gravação.
Se você for vocalista, faça o aquecimento e os exercícios vocais antes de pôr a mão no microfone. Beba chá quente com mel para lubrificar suas cordas vocais, e tente também usar um cachecol, para manter as cordas vocais quentinhas. Evite fumar e comer laticínios, para sua garganta ficar hidratada e sem catarro, e evite ir a ambientes com som alto antes da gravação, porque lá você teria de berrar e isso deixaria uma marca nas suas cordas vocais.
Se você for o guitarrista, troque as cordas antes de entrar no estúdio — ainda mais se for tocar violão. Se você for o baixista e não quiser trocar as cordas uma vez por mês, deveria pelo menos pensar em trocar quando for entrar no estúdio. Em ambos os casos, elas vão ficar mais afinadas e com as notas mais claras.
Se você for o baterista, troque as peles dos tambores. Se elas forem usadas por tempo demais, o som fica abafado e é mais difícil de manter a afinação. E também separe um tempo para afinar os tambores direitinho — você pode até aventar usar tambores diferentes para músicas diferentes.
Você, como bom artista se preparando para gravar, tem de estar bem ensaiado e no controle de todos os trechos que for gravar. E é melhor chegar no estúdio bem descansado ou descansada, e com a cabeça em paz.
Confira os cabos
Ter cabos bons e em dia vai fazer toda a diferença, então não confie em produtos vagabundos. Cheque todos plugues e conexões e use um spray de ar comprimido para limpar possíveis sujeiras ou poeira que possa ter ficado nos encaixes dos instrumentos com os cabos.
Crie um clima confortável, mas funcional
Para artistas que não têm muita experiência de estúdio, a transição de um show ou de um ensaio para um estúdio pode ser bem difícil. Eu, que sou produtor e engenheiro de som, acredito que criar um ambiente que seja emocionalmente acolhedor pode ajudar a melhorar seu desempenho, e melhorar junto a qualidade das faixas gravadas ali.
Experimente
Existe uma máxima que é muito simples e vale para todas as gravações em estúdio: vá experimentando. O único jeito de saber o que vai render um bom som e o que evitar no seu estúdio caseiro é testando. Muitas das lições de produção, engenharia de som e de gravação vêm da tentativa e erro, de testar as coisas de orelha.
“Eu aprendi muito vendo engenheiros de som criativos trabalhando”, diz Drew Raison, um engenheiro e produtor da Filadélfia. “O Steve Albini trabalhou no meu estúdio, e colocava os microfones rente ao chão. Naquele ponto eles pegavam um ecozinho demoníaco, do tipo que você geralmente tenta evitar a qualquer custo. Mas ele queria alimentar aquilo. Para mim, era um grande ponto de interrogação. Por que alguém faria isso? E daí eu ouvi a gravação. ‘É isso aí, garoto’, ele disse. E eu gostei. Esse tipo de técnica se aprende com o tempo.
“Eu raramente uso o que aprendi com ele nas minhas próprias gravações, porque não quero um som que rompe completamente com a acústica do estúdio, mas você não deve nunca deixar de experimentar. Aqui é sua chance. Analize e decida. ‘Isso funcionou ou não?’ e ‘O que eu posso fazer para melhorar da próxima vez?’. É esse tipo de liberdade que faz uma gravação caseira ficar cada vez mais divertida.”
Tente cultivar a simplicidade
Não vá usando muitos aparelhos ou instrumentos juntos. Se você mantiver poucos sons ou efeitos juntos, suas gravações tendem a ser mais coesas e potentes. Se você tem um microfone, um equalizador, um compressor de sinal e um pré-amplificador, deve ter um motivo para usar cada um. Mas às vezes eles podem afetar o som –negativamente. Se você não está feliz com o tom de uma gravação, tente gravar direto do pré-amplificador, e deixe para usar o equalizador e o compressor depois. Às vezes a simplicidade é o caminho a se seguir, e conseguir gravar um tom mais natural deve ser sua meta.
Foque na frequência
Quando você está gravando e mixando, não quer ter grandes saltos de frequência. Se estiver editando o som da percussão, por exemplo, e não precisar de nenhum som abaixo de 80 Hz, você pode usar um filtro de frequência, para deixar os sons mais altos que isso passarem, enquanto os mais baixos vão ser enxugados. Assim você foca o instrumento na frequência que quer.
Talvez o ar-condicionado do estúdio esteja criando um ruído de baixa frequência, ou a cantora batendo o pé no chão, ou os músicos andando possam estar criando uma energia sonora de baixa frequência que você não quer gravada. Um filtro de frequências altas pode separar essas frequências do resto da gravação.
Por outro lado, se você estiver gravando um baixo, não vai precisar das frequências mais altas, então limpe elas com um filtro de frequências altas. Limpar as frequências que não deveriam estar lá ajuda a limpar seu som
Não pule direto para a equalização
Às vezes, os pontos altos ou baixos que você não capturou (ou que estão lá em excesso) são resultados de os microfones terem sidos colocados no lugar errado ou de usar um microfone errado, dos ajustes de equalização, do instrumento ou do amplificador ou do ângulo que o microfone ficou daquele instrumento. Ajustar um (ou mais de um) desses elementos pode fazer toda a diferença, sem que para isso você tenha de mexer na equalização, ainda mais se você estiver tentando capturar sons de frequências mais altas. Jogar o som para uma frequência mais alta usando o equalizador pode te trazer ruídos desnecessários para a faixa, o que vai dificultar sua gravação ou a mixagem.
Muito da arte da gravação vem do tipo do microfone, de onde ele é colocado, e do ângulo. Muita coisa pode ser conseguida mudando o ângulo do microfone e testando várias posições de onde ele está em função dos instrumentos.
Limite a compressão e a equalização durante a gravação
Enquanto muitos engenheiros vão usar a compressão e a equalização enquanto ainda estão gravando, alegando que as decisões tomadas durante a gravação vão ficar na faixa para sempre. Algumas coisas podem ser refeitas depois, mas outras não podem. E se você comprimir demais ou som ou equalizar além da conta, você vai ter que aguentar ela até o fim. Quando você está gravando, sua prioridade tem de ser gravar a sessão o melhor que conseguir. Depois, quando estiver fazendo a mixagem, daí vai ser a hora de lidar com compressão, equalização e outros efeitos.
Evite o cancelamento de fases
Reconhecer e evitar o cancelamento de fases exige experiência e conhecimento. Mas usar uma proporção de 3 para 1 pode ser um bom começo para quem vai gravar em casa. 3-para-1 significa que o segundo microfone tem de ser três (ou mais) vezes mais distante da fonte de som (voz, amplificador ou instrumento) do que o primeiro microfone. Lembre-se que, se o microfone ou a fonte de som estiverem perto de uma parede refletiva de som, isso pode gerar outro cancelamento de fase. Em um espaço gigante e vazio, a regra do 3-pra-1 geralmente funciona. Também funciona em alguns espaços menores, mas você terá de lidar com rebatimentos de som e reverberação em geral.
“Um sinal fora de fase pode fazer com que os instrumentos desapareçam da sua mixagem”, explica Raison. “Em um ambiente caseiro, você tem de prestar duas vezes mais atenção, ainda mais se estiver trabalhando em um estúdio pequeno, o que aumenta a chance de criar problemas de fase.”