Alguém se importa com descobrir novos sons?

 

Eu tenho um par de amigos que são obcecados com descobrir novos sons. Para eles, é um esforço de 24 horas por dia. Todos os dias, o dia todo eles estão ouvindo os últimos lançamentos e playlists,e fugindo de qualquer coisa que eles já tenham ouvido. Eu uma vez perguntei para um desses amigos, quando ele estava fazendo sua compilação de Os Melhores do Ano, quantas vezes ele tinha conseguido ouvir seu álbum predileto nos últimos 12 meses. A resposta dele foi algo na linha de, “Ah, talvez umas duas ou três vezes, no máximo. Eu não consigo simplesmente voltar a músicas velhas e ouvi-las de novo, sabendo que há tanta coisa nova por aí.”

Teoricamente, eu entendo o que ele quis dizer. Ele quer estar inteirado de tudo, sempre informado das últimas tendências, ou talvez seja para satisfazer o colecionador que ele guarda dentro de si. Mas, no campo das emoções, eu não entendo isso. Eu fico obcecado por canções ou por álbuns que me tocam, não pelo processo através do qual eu entrei em contato com eles ou a promessa de que há mais música boa além do horizonte. Quando eu me apaixono por um artista, seu CD fica no meu carro por semanas ou meses. Suas músicas ficam no repeat do meu Spotify (e agora do meu Apple Music).

Então, para mim, e imagino que para a maioria das pessoas, o problema nunca foi descobrir novas músicas. Eu tenho uma porção de amigos que são nerds de música e que podem me dar recomendações valiosas. Eu gosto de muitos gêneros diferentes de música. Eu tenho alguns sites que posso checar quando quiser ouvir algo de novo. E todos nós também podemos apelar para o passado para encontrar algo de bom que tenhamos deixado passar.

Não, o problema nunca foi a descoberta de novas músicas, sempre foi ter o tempo para aproveitar plenamente as músicas com que já tivemos contato. Ou, dizendo com outras palavras, eu consegui me resignar do fato de que eu nunca terei — e que NINGUÉM jamais terá— a capacidade de ouvir tudo, então eu tento me concentrar em ter uma experiência mais profunda com qualquer som bom que acabe cruzando o meu caminho É qualidade, e não quantidade.

Além do mais, considerando que minhas músicas prediletas de todos os tempos são coisas que tive de ouvir uma três ou quatro (ou doze) vezes antes de realmente entender a genialidade, eu me pergunto quanto material muito bom acaba passando por essas pessoas que tratam um álbum como se fosse só um tijolinho na estrada sem fim da música. Ou talvez esses meus amigos sejam tão brilhantes e tão sintonizados que consigam acessar tudo o que uma música tem para oferecer já na primeira ouvida. Eu não sou tão rápido (nem tão esperto).

Se esses amigos descobridores de música servem como farois no meio da escuridão, como eu suspeito que sirvam, então a descoberta de novos sons pode ser bem menos importante do que a gente a considerava dez anos atrás. E o que significa “descoberta de música”? Ela vale alguma coisa se o ouvinte nunca vai atrás de ouvir mais da banda, compra um CD ou se inscreve na sua lista de e-mails? Será que a maioria das pessoas está usando o Pandora para garimpar novas músicas, ou eles só querem ouvir aquilo que já amam e conhecem?

Um artigo em inglês chamado ‘The Fundamental “WHY” of music discovery’ (O “por que” fundamental da descoberta de música), escrito por Cortney Harding no Medium, dá um olhar bem interessante nesse tópico, em ambos os termos de como o comportamento do fã e o suposto valor da descoberta de novas músicas levou a diversas decisões empresariais (tomadas por empresas start-ups e por gigantes da indústria tecnológica).