5 mitos sobre a vida de um músico com um emprego “de verdade”

Olá, eu sou analista de RH…

… e um artista com um hit na parada da Billboard.

Então você é músico mas também tem um emprego numa firma?

Ah, se você PUDESSE se concentrar na sua música o dia inteiro…

Ah, se você PUDESSE fazer da sua música um ganha-pão, aí….

… AÍ você ia conseguir escrever e lançar aquele hit, ou terminar seu site ou finalmente construir um bom mailing!

Não é justo que você tenha de trabalhar oito horas por dia, enquanto alguns músicos têm a vida dos sonhos e só fazem música!

Você pode ter pensado alguma(s) das coisas acima. Eu sei, você já pensou nisso várias vezes. Todos nós, músicos independentes, estamos no mesmo barco. A regra é ter uma profissão (ou uns bicos que garantem o sustento) além da nossa carreira na música. E pode ser duro lutar conta a insegurança que vem no dia a dia: a gente pode mesmo ser “músico profissional” se não se dedica à música oito horas por dia?

Dá para ser músico profissional tendo um emprego que consome 8 horas do seu dia?

Sim, dá!

Por que? A resposta é simples: você compõe ou toca quando pode. Simples assim.

O que você vai fazer fora do seu tempo “de palco” é problema seu, e isso não tira a legitimidade ou o talento da sua música. Entretanto, a gente pode perder a confiança em nós mesmos. Podemos ficar em dúvida, uma dúvida que prejudica nossa criação, mas não só, também prejudica como nos vemos.

Faz quase uma década que eu tenho um emprego no departamento de RH. E também sou um pianista solo com 12 álbuns. Num primeiro momento essas duas “profissões” não parecem complementar uma a outra, e as pessoas que me encontram no Spotify perguntam: “Por que diabos você tem um emprego?” É uma pergunta justa, mas a conversa “como ser criativo trabalhando oito horas por dia?” precisa existir, e nossa percepção de trabalho e música precisa mudar.

Vamos desconstruir alguns mitos.

Eis 5 mitos sobre músicos que também têm um emprego numa firma

1. Se você tem um emprego em tempo integral, não é “músico de verdade

Vamos esclarecer algo em alto e bom som. Você É músico (e autor e artista etc.), mesmo se durante o dia for advogado, carpinteiro, vendedora, médica ou vendedor de Jequiti.

Só porque você tem um emprego, isso NÃO SIGNIFICA que falhou no trabalho criativo.

Na verdade, pare para pensar que ter as duas coisas só mostra o quanto você é dedicado e apaixonado pelo ofício.

2. Eu preciso ser músico ou ter um emprego. Não dá para ter os dois.

Você não é APENAS o que faz no seu emprego. Você é um ser humano completo. Você tem o talento para fazer um trabalho, mas esse trabalho ou esse cargo não definem quem você é.

Não é uma situação de tudo ou nada!

Entretanto, é fácil cair numa arapuca mental: “Eu preciso me dedicar em tempo integral a minha criação, ou eu nunca vou dar certo” OU “Não dá para fazer as duas coisas, porque meu trabalho consome todo meu tempo!”

Na verdade, essas duas frases são desculpas que a gente conta para nós mesmos.

É aqui que a gente precisa começar a ver como nosso outra “profissão” pode, na verdade, estar ajudando a gente a se dar bem no trabalho criativo.

3. Se eu não tivesse um emprego, minha carreira de músico estaria melhor.

Pode até haver um pouco de verdade escondida nessa frase, mas eu te desafio a pensar o contrário: como o seu emprego que consome 8 horas do dia está AJUDANDO na sua carreira:

  • O emprego traz benefícios para você e para a sua família que você não conseguiria de outro jeito?
  • Por causa do emprego, você participou de treinamentos profissionais ou cursos de liderança que conseguiu usar no marketing da sua música, para fazer networking, para criar etc.?
  • Você consegue interagir com outras pessoas e criar relacionamentos profissionais durante o dia?
  • Você já desenvolveu alguma habilidade profissional para o trabalho que acabou sendo útil para sua música?

Essas coisas todas só estão te AJUDANDO a ser um músico melhor.

Meu emprego de analista de RH exige que eu passe um bom tempo falando com pessoas, construindo relações com elas e descobrindo soluções para problemas de funcionários, gerentes e executivos. Quanto mais eu construo esses relacionamentos, entendo como o negócio funciona e entendo por que as relações pessoais são tão importantes nesse mercado, mas eu posso usar esses mesmos princípios na construção da minha carreira musical, e também em fazer contatos no mercado da música.

4. Eu não tenho tempo para fazer as duas coisas!

Eu já tinha comentado uma frase parecida no número 2, mas acho que vale a pena enfatizar: a gente acha que não tem TEMPO SUFICIENTE!

A pergunta que mais ouço é “onde você encontra tempo para fazer tudo (cuidar do site solopiano.com, fazer o podcast The Going Solo Podcast, produzir álbuns e escrever para um blog) além de ter um emprego?” (Ah, e eu também tenho três filhos pequenos).

Sim, tem muita coisa rolando no meu dia a dia. Mas talvez seja hora de a gente encarar o tempo de uma maneira diferente — em termos de ENERGIA. Onde você está depositando sua energia, e você está usando sua energia no lugar certo no tempo certo?

Eu fico sempre maravilhado quando converso com líderes do mundo corporativo (seja das finanças, da medicina ou da educação) e ouço o tanto de coisa que eles fazem além dos seus empregos. Uns estão treinando para aquelas corridas Iron Man, outros fazem horas de trabalho voluntário em ONGs, outros vão a coaches ou a aulas de ginástica. É uma lista enorme.

O fato é que todas essas tarefas exigem tempo. E como você consegue ser um dos profissionais mais bem-sucedido do mundo e também ter atividades fora da firma? De onde eles tiram esse tempo?

Se a gente trocar esse papo por uma conversa sobre energia, a gente pode começar a se desafiar, a pensar onde vale gastar nossa energia. Por exemplo, depois do trabalho você vai ficar duas horas jogado no sofá assistindo Netflix? Ou vai pro Happy Hour de novo, tomar uns drinks? Não há nada de errado com essas duas coisas, mas o que aconteceria se você passasse duas horas em cima de construir seu mailing ou escrevendo e agendando posts para publicar nas suas mídias sociais nos próximos dois meses?

5. Eu preciso pedir demissão do meu trabalho já e correr atrás do que eu amo

Talvez você precise. Mas só você saberia dizer.

Só que, antes de sair pedindo as contas, pense: você está pronto para aplicar a mesma disciplina que tem no seu trabalho de oito horas diárias na sua carreira de músico? Você vai usar o grosso do seu dia para melhorar no ofício da música (e no ofício de compartilhar o seu som)?

Cada caso é único, cada pessoa tem uma meta diferente e necessidades diversas, mas antes de dar o pulo, pense bem se não vai machucar sua carreira em vez de fortalecê-la!

Concluindo: você é um ser humano complexo com habilidades que vão muito além do que só fazer música. Comece a pensar em como usar TODOS os seus talentos, para abrir mais portas, sejam elas as portas do escritório, as portas de uma casa de show ou as portas do público na internet.

Até lá, te encontro na firma na segunda de manhã… E no Spotify.